
Neste segundo texto sobre as lições trazidas pela pandemia, no que tange à Educação, quero convidar os amigos leitores a pensar na questão da formação dos nossos estudantes, no aprendizado propriamente dito. Quando a pandemia mostrou sua face terrível, as escolas foram fechadas, e lembro-me como se fosse hoje: março de 2020, e de uma hora para a outra, não poderíamos mais receber nossa gurizada no colégio, iríamos trabalhar de forma remota. Novamente, nós professores precisaríamos nos adaptar a uma nova situação, nossos estudantes e suas famílias também, e sabíamos que não seria fácil para ninguém. E não foi mesmo nada fácil!
Nos disseram que com as novas tecnologias, tudo aconteceria de uma forma até satisfatória, e eu lembro até de ler algumas frases, dizendo que “os professores seriam substituídos”, poderiam estar com os dias contados. Um estudante com uma boa conexão de Internet, o ao YouTube, ao Google Classroom, ao “Aula Paraná”, poderia se virar sozinho, com ajuda dos pais, ele “não precisava mais de ninguém”. E eu, professor há quase 20 anos, bem “atrasado” com relação às tecnologias, me senti mesmo um cara ultraado, cheguei mesmo a questionar minha capacidade de lecionar nos novos tempos. Por vezes, me senti desesperado na frente de um computador aqui em casa, tentando aprender a usar as ferramentas, e me envergonhava ao perceber que os meus alunos davam de dez a zero no uso dos aparelhos. Foi tenso!
Mas depois, com o andar da carroça, fui pegando o jeito, adaptando uma velha mesa no quarto de visitas, um mural de isopor, uma pilha de livros debaixo do computador para a câmera ficar na altura dos olhos. E vamos lá! Aulas via Google Meet, explicações, atividades online, alguns estudantes se soltando, ligando suas câmeras, falando no microfone. E não demorou, vários começaram a dizer: “professor, eu não estava entendendo nada das aulas na TV, lendo o livro sozinho, mas agora, com você falando, eu entendo”. Cara, que alegria, eu não era descartável!
Eu aprendi umas coisas muito importantes, e acredito que muita gente aprendeu também: a tecnologia é maravilhosa, incrível, torna tudo mais fácil, mais interessante, mas bonito, chama a atenção mesmo; a informação está aí, se você fizer uma busca no Google, vai achar de tudo, conceitos, fórmulas, imagens, vídeos, explicações. Mas o papel do professor, ah, esse é insubstituível! E não falo só do papel do professor explicando as coisas não! A afetividade, o carinho, a atenção, a percepção humana das dificuldades e avanços de cada aluno, o olho no olho, que só um ser humano pode oferecer aos outros, fazem sim toda a diferença.
Quanto aos estudantes, percebi que o aprendizado deles depende de muitas variáveis, com certeza nós professores temos a função principal de guiá-los no caminho, mostrar possibilidades e indicar pontos de partida. Mas este aprendizado depende também da dedicação deles mesmos, do meio em que estão inseridos, do apoio que recebem (ou não). Só que o aprendizado pode e PRECISA acontecer, e todos os envolvidos no processo podem e devem fazer seu papel, inclusive e especialmente os estudantes. Desta feita, a lição que a pandemia deixou para nós, quanto à Educação, é: as tecnologias, o online, o remoto, ajudam, foram importantíssimos durante a pandemia, devem ser cada vez mais incorporados ao trabalho de ensino/aprendizagem.
Mas eles NÃO SUBSTITUEM o trabalho do professor; não substituem o valor do contato humano, aquela chegada na carteira, do perguntar se está tudo bem, se entendeu. Olhar para o estudante cabisbaixo e querer saber qual o problema, se posso ajudar, o chamar na mesa do professor e dizer: “vamos ler juntos”. E também só funcionam de verdade com dedicação e honestidade da parte dos maiores interessados.
E para os estudantes, ficou (espero que tenha ficado), a lição de que a Internet é mais do que joguinhos, redes sociais, memes, piadas, músicas e séries. A Internet pode ser uma aliada incrível na sua formação, no seu aprendizado, no seu crescimento! Ouço pessoas dizerem que a Internet tem muita “porcaria” e muito perigos, e não discordo. Aliás, o mundo é assim! Mas a Internet também tem muita coisa boa, útil, que pode nos engrandecer, nos favorecer. E para os pais, fica a lição de que a Internet é ótima, até para entreter os filhos, mas ela não substitui o trabalho de um professor, muito menos o amor e a atenção de um pai e de uma mãe! Precisamos entender de uma vez que a escolarização é muito necessária, ela deve ser profícua, efetiva, verdadeira, e que todos os envolvidos no processo devem vislumbrar a missão maior: que os estudantes aprendam, pensem por si, cresçam e se tornem os cidadãos que nossa sociedade precisa. Em breve, uma nova reflexão, até breve!
José Carlos Correia Filho – professor de História
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